Existe um senso comum de que a carreira das mulheres melhorou, com maior quantidade em posições de liderança, licenças maternidade mais extensas, ações para promover mais igualdade em algumas empresas mais engajadas, mas, será mesmo? Na realidade, estamos longe do ideal.
Mulheres são 51,8% da população brasileira. Logo, espera-se que elas sejam também 51,8% das pessoas empregadas, certo? Errado! De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad- IBGE), as mulheres representam 45,3% da população ocupada do Brasil, no primeiro trimestre de 2022.
Além disso, 94% das mulheres alegam ter dificuldades para conciliar carreira e maternidade, diz um estudo da CRESCER, feito pela Editora Globo. Outra pesquisa do IBGE, dessa vez de 2021, mostra que apenas 54,6% das mulheres com filhos pequenos estão empregadas, enquanto o percentual entre homens para filhos da mesma faixa etária é de 89,2%. Já um estudo divulgado pela Catho aponta que 30% das mulheres deixam o mercado de trabalho para cuidar dos filhos.
As autoras do livro Minha mãe é um negócio, Patrícia Travassos e Ana Claudia, ao conviverem com mais de 30 mães que decidiram equilibrar a maternagem e o lado profissional concluíram que o empreendedorismo, para muitas mães, muitas vezes é a saída para estar mais tempo com os filhos.
Todos esses dados mostram um cenário de desigualdade. Ainda há poucas empresas no Brasil que buscam eliminar essa disparidade em relação aos homens, oferecendo condições básicas para que as mulheres consigam conciliar suas carreiras à maternagem, sem que elas precisem escolher uma em detrimento da outra.
O ponto aqui é que existe espaço para que esse paradigma seja reavaliado e melhorado. Se você concorda com isso, vem comigo e vamos refletir mais!
A realidade
Muitas pessoas me procuram para refletir sobre a carreira. Algumas mulheres com dilemas complexos sobre como farão para conciliar todos os papéis que precisam exercer com os resultados que precisam entregar. Outras, não querem nem tocar no assunto “maternidade” porque sentem que ainda estão crescendo em suas carreiras e isso pode atrapalhar a sua trajetória profissional.
O curioso é que tenho recebido também alguns homens (pais) que compartilham de dores ao verem suas esposas nesse dilema e não podem ajudar mais que desejem. Muitos desejam estar mais próximos do desenvolvimento de seus filhos.
A decisão de ser mãe
Acredito que qualquer mulher com mais de 25 anos ao passar por uma entrevista de emprego já ouviu perguntas como: “Você tem filhos?”; “Você pretende ter filhos? Quando?”; “Com quem seus filhos ficam quando estão doentes?”, e por aí vai.
Antes mesmo de ser mãe, as mulheres sofrem pressão. Se por um lado existe a família que após o casamento espera que logo a mulher gere uma criança, por outro existe o receio dessa mesma mulher sobre a sua vida profissional. Os dados mostram que essa não é uma preocupação tola, ela faz sentido.
O peso que os filhos têm na vida de pais e mães é diferente. Espera-se que o vínculo entre mães e filhos seja mais intenso e que a dedicação e o foco dessa mulher seja direcionado à criança. Quanto aos pais, espera-se que sejam bons provedores e, quando eles são presentes na vida da criança, são exaltados como excelentes pais, ao mesmo tempo em que mães dedicadas são julgadas por não abandonarem suas vidas profissionais.
O despreparo das empresas para lidar com as mães
Depois de muita luta por direitos civis, as mulheres têm conquistado cada vez mais o seu espaço no mercado de trabalho. As empresas desejam contratar mulheres e ter uma representação feminina mais significativa na alta liderança, desde que essas mulheres não sejam mães.
Temos poucos exemplos de grandes executivas e CEOs que são mães. Cristina Junqueira, fundadora do Nubank, por exemplo, foi a primeira executiva a ser capa da Forbes grávida, isso três dias antes de dar à luz a sua segunda filha. Hoje, ela é mãe de três.
Mas quantas outras Cristinas Junqueiras você conhece? Acredito que poucas. Ao mesmo tempo, quantos desses grandes executivos brasileiros são pais? Quase todos, eu diria.
As empresas ainda não entenderam como acolher e potencializar as mães, como prepará-las para a licença-maternidade e como recebê-las de volta. Muitas empresas não possuem minimamente a estrutura necessária para receber essa mãe, desde um local para que ela faça a retirada do leite e armazene, até casos de mães que quando retornam para os escritórios não possuem equipamento (celular, computador) prontos para trabalharem.
Como se não bastasse a cobrança da sociedade de como educar seu filho, muitas mães quando estão com problemas em casa acabam sendo julgadas e/ou orientadas pelos “especialistas de plantão” (líderes, RH, colegas) sobre a melhor maneira para resolverem o problema usando suas histórias/experiências como referência.
É comum, inclusive, que mulheres sejam desligadas na volta da licença pelas mesmas empresas que comemoram o Dia das Mães em suas campanhas de marketing.
O ponto é que ainda há um espaço para evoluir na forma como o mercado lida com as mães, não só com elas, mas também aceitando que as crianças precisam, podem e querem ser criadas pelos pais e pelas mães.
O medo e o sentimento de culpa
O desejo de ser mãe ou o orgulho parecem competir com a carreira o tempo todo. Isso, inevitavelmente traz muitos medos e inseguranças para as mulheres. Medo do julgamento, medo de ser substituída, medo de ter suas visões menosprezadas… essa lista é infinita.
Para aquelas que já são mães, conviver com o sentimento de culpa não é raro. Culpa por “abandonar” a criança, culpa por não conseguir trabalhar a mesma quantidade de horas de antes, culpa por estar cansada (afinal de contas você não dorme), culpa por acreditar que está entregando pouco nos dois papéis: mãe e profissional.
Como mãe, empreendedora, consultora, terapeuta e coach eu te digo com tranquilidade: esses medos não são só seus. Todas temos uma nuvem de inseguranças pairando sobre nós. Além das cobranças das pessoas ao nosso redor, nosso nível de autocobrança é extremo e isso não faz bem.
Mães que não deixam de lado as suas carreiras estão mostrando que esse aspecto da vida também é importante para as mulheres. Nós somos a soma de todos os papéis que exercemos na nossa vida (mãe, filha, amiga, esposa, profissional) e isso não é só com as mulheres. Queremos igualdade ocupar os nossos espaços no mercado de trabalho assim como os homens, precisamos continuar nos dedicando para sermos as melhores profissionais que podemos. Estou certa que muitas de nós também fazem isso por nossas filhas e filhos. Queremos dar conforto a eles, boa educação, além do exemplo.
Como conciliar carreira e maternidade, afinal?
Se tivesse uma receita pronta eu juro que passaria, mas confesso que eu mesma tô encontrando o meu jeito de fazer isso dia após dia. Eu também luto contra os estigmas e contra as minhas inseguranças e sentimento de culpa. Não é fácil, definitivamente.
Tem dias que dá vontade de desistir e se dedicar exclusivamente à maternagem. Por isso não podemos julgar as mães que abdicam da carreira. É duro persistir na vida profissional e escolher focar só na família também não é fácil. Essa mulher abriu mão de muita coisa, inclusive de olhar para ela e lutar por seus sonhos.
Podemos conciliar? Claro! Temos muitos exemplos de mães que conseguiram fazer isso, mas toda escolha tem seus ônus e bônus. Por isso é importante que as empresas construam espaços organizacionais de acolhimento e que as mães profissionais também se apoiem em grupos na empresa, fora dela, acompanhando outras mães nas redes sociais… entendendo outras experiências que nos ajudam a passar pelas nossas.
Por isso eu te convido a me acompanhar aqui pelo blog e pelas redes sociais. Sempre vou refletir sobre carreira nesse lugar de mãe e espero que criemos uma comunidade.
Por fim, é importante reforçar o papel do autoconhecimento. Nossas experiências são singulares e só a gente mesmo pode entender a nossa forma de maternar. Então, busque terapia e leituras que te ajudem a alinhar o seu SER (olhe para o seu eu maternal e profissional).
Por que eu escolhi falar sobre esse assunto? Porque quero que a minha filha, Julia, possa lutar pelos seus sonhos usando os talentos que ela adquiriu ao longo da sua trajetória, fazendo as suas próprias escolhas. Sem se preocupar com o que eu, o pai dela ou as outras pessoas acham que ela deva fazer. E, no final, ver que ela teve a coragem necessária para ser o melhor que poderia ser.
O que achou deste conteúdo? Escreva nos comentários as suas percepções e acompanhe o nosso blog para acompanhar mais assuntos sobre carreira, saúde mental e mercado.