O final do ano é, para muitas organizações, um momento de revisão e planejamento estratégico. Um período em que líderes e gestores se reúnem para definir metas, traçar caminhos e criar projeções para o futuro.
Mas quais serão essas estratégias de fato conectadas à realidade que vivemos hoje? Será que compartilharemos as mudanças importantes que estamos presenciando no mercado e, principalmente, na relação das pessoas com o trabalho?
Vivemos uma epidemia de saúde mental, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados recentes mostram que transtornos mentais, como ansiedade, depressão e burnout, são as principais causas de afastamentos no trabalho em diversos países. E o Brasil não é exceção. Aqui, os casos de afastamento por transtornos emocionais têm aumentado exponencialmente, e o burnout já é reconhecido oficialmente como uma condição ocupacional pela Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
Além disso, a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que entrou em vigor em 2022, reforça a necessidade de programas de gestão de saúde e segurança do trabalho mais robustos. Essa norma destaca a obrigatoriedade de as empresas considerarem os riscos psicossociais como parte do gerenciamento de saúde ocupacional, o que inclui fatores como carga de trabalho excessiva, ambientes tóxicos e falta de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Essa realidade levanta uma questão crucial: se reconhecemos a gravidade do problema, por que tantas estratégias empresariais ainda negligenciam as pessoas no centro das decisões?
Vários movimentos como quiet quitting e quiet ambition, que ganharam destaque nos últimos anos, refletem um padrão claro de desengajamento e uma busca por equilíbrio. Esses conceitos não surgem do nada; eles são respostas diretas a culturas corporativas que, frequentemente, priorizam números em detrimento do bem-estar humano. De acordo com uma pesquisa da McKinsey, 40% dos trabalhadores que deixaram os seus empregos durante a “Grande Renúncia” citaram a falta de reconhecimento e intencionalmente como os principais motivos.
O problema se aprofunda quando consideramos o distanciamento entre líderes que definem metas e as equipes que as executam. Pesquisas do Gartner mostram que 82% dos colaboradores sentem que suas lideranças não compreendem os desafios reais de suas rotinas. Esse desalinhamento frequentemente resulta em julgamentos enviesados, expectativas irreais e decisões que comprometem talentos valiosos.
Por exemplo, profissionais de alta atuação, que enfrentam dificuldades pontuais devido a questões emocionais, muitas vezes são desligados sem que haja uma tentativa genuína de apoio. Qual é o custo disso para a organização e para o colaborador? Estudos indicam que substituir um talento pode custar até 200% do salário anual do colaborador, além de impactar o desempenho do clima organizacional e a produtividade da equipe.
Então, como mudar esse cenário? Veja algumas reflexões importantes para líderes que desejam criar estratégias mais humanas e eficazes:
- Considere o contexto real: Planejar não é apenas olhar para dados financeiros. É essencial entender as dinâmicas do mercado, os recursos humanos disponíveis e as limitações operacionais. Um planejamento que ignora essas variáveis está fadado ao fracasso.
- Engaje sua equipe com clareza e propósito: Crie um ambiente seguro psicologicamente para o seu time. O engajamento nasce da comunicação clara e da valorização das contribuições individuais. Quando as pessoas entendem o “porquê” das decisões e enxergam seu papel no processo, o comprometimento se torna natural.
- Flexibilidade é força, não fraqueza: Ajustar metas e revisar estratégias ao longo do caminho é necessário. Isso demonstra maturidade e respeito pelas mudanças inevitáveis no ambiente interno e externo.
- Aprenda com os erros e celebre conquistas: Erros fazem parte do processo de inovação. Empresas que acolhem lacunas como oportunidades de aprendizado criam culturas mais resilientes e criativas. E não se esqueça de considerar os resultados – pequenas vitórias também merecem destaque.
- Reveja o custo do turnover: Antes de substituir um talento, pergunte-se: fizemos tudo o que era possível para apoiá-lo? Muitas vezes, a solução está em cuidar, e não em trocar.
No final, os números são resultados, mas são as pessoas que os tornam possíveis. A verdadeira liderança entende que resultados sustentáveis só surgem quando a estratégia é alinhada à realidade e às necessidades humanas.
Como sua empresa está lidando com isso?
O que você está fazendo de diferente neste planejamento estratégico?
Vamos continuar essa conversa e construir juntos estratégias mais inteligentes, humanas e conectadas ao presente/futuro?